500 anos da Reforma
À continuação reproduzo na íntegra o artigo "Uma grande Traição" publicado pela página
http://solascriptura-tt.org/SeparacaoEclesiastFundament/UmaGrandeTraicao-Ecumenismo-Hunt.htm
Uma Grande Traição
Dave Hunt
Escrevo esta na Eslováquia, onde acabei de chegar depois de
uma viagem de um dia inteiro de trem através da República Tcheca. Ruth e eu
estamos na Europa numa excursão de pregação, a qual primeiro foi realizada
através da Alemanha, Áustria e Suíça, de carro. Começamos em Augsburgo,
Alemanha, num companheirismo com amados crentes conhecidos através de oficiais
militares da Inteligência Americana, lotados próximo dali, durante a Guerra
Fria. Nossos corações ficaram grandemente comovidos ao visitar mais uma vez
partes da Europa onde a Reforma começou e onde tantos foram martirizados pela “
fé uma vez entregue aos santos”(Judas
3).
Durante mil anos antes de Lutero a Europa sofreu
perseguições, queimas e afogamentos de Cristãos evangélicos, que jamais foram
Católicos e ainda não eram chamados Protestantes. Este termo seria anexado
somente mais tarde àqueles excomungados da Igreja por protestarem contra suas
maldades. O movimento entre sacerdotes e monges exigindo um retorno à Bíblia
começou muitos séculos antes de Lutero. Prisciliano, bispo de Ávila, poderia
ser chamado o primeiro Reformador. Falsamente acusado de heresia, bruxaria e
imoralidade por um Sínodo em Bordeaux, França, em 384 d.C. (sete de seus escritos
refutando estas acusações foram recentemente descobertos na biblioteca da
Universidade de Wurzburgo na Alemanha), Prisciliano e seis outros foram
degolados em Trier, em 385 d.C. e a este, muitos martírios se seguiam. Passando
rapidamente para os anos 1300, John Wycliff, “a estrela da manhã da Reforma”,
se destacou pela autoridade das Escrituras, traduzindo-as e publicando-as na
Inglaterra, e pregando e escrevendo contra as maldades dos papas e contra a
transubstanciação. Jan Hus um fervoroso sacerdote católico e reitor da
Universidade de Praga, foi influenciado por Wycliff. Excomungado em 1410, Hus
foi queimado na estaca como “herege”, em 1415, pelo crime de convocar uma
Igreja corrupta à santidade e à autoridade da Palavra de Deus.
Esses pré-reformadores montaram o palco para a Reforma de
Lutero. O próprio Lutero disse: “
não
somos os primeiros a declarar que o papado é o reinado do Anticristo, visto
como durante anos antes de nós, tantos e tão grandes homens... encarregaram-se
de expressar tão claramente a mesma coisa...” Por exemplo, num total
concílio realizado em Rheims no século 10, o Bispo de Orleans chamou o papa de
Anticristo. No século 11 Roma foi denunciada como a “Sé de Satanás” por
Berenger de Tours. Os Valdenses identificaram o papa como o Anticristo, num
tratado do ano 1100 d.C. intitulado “a Nobre Lição”. Em 1206 uma conferência
albigense apontou o Vaticano como a mulher “
embriagada
com o sangue dos mártires”, o que ela tem continuamente provado ser.
Provocado pela licenciosidade que viu no papa e no clero em
Roma, e pela venda de indulgências como bilhetes de passagem para o céu
(financiando a construção da Basílica de S. Pedro), no dia 31 de outubro de
1517 Lutero pregou sua Disputa sobre o poder e eficácia das indulgências
(conhecida como as 95 Teses), no portão da Igreja do Castelo, em Wittenberg.
Cópias traduzidas do original em Latim, foram amplamente distribuídas,
incitando o debate através de toda a Europa, sobre a venda de perdão dos
pecados.
Augsburgo teve uma significação especial para nós porque é
único na história. No dia 12 de outubro de 1518, detido e convocado a Roma por
ordem do Papa Leão X, Lutero foi conduzido até Augsburgo para ser julgado
diante do Cardeal Cajetan. Tendo sido recusado um tribunal imparcial, Lutero
fugiu durante a noite para salvar a vida. No dia 3 janeiro de 1521, uma bula
formal foi emitida pelo papa enviando Lutero para o inferno se ele não se
retratasse. Convocado pelo imperador, que garantia sua segurança, Lutero
apareceu diante do Tribunal Imperial na Dieta de Worms, em 17 de abril de 1521.
Instado a retratar-se de seus escritos, Lutero replicou:
Estou submisso às
Escrituras que citei e minha consciência está cativa da Palavra de Deus. Não
posso e não quero me retratar de coisa alguma... não posso agir de outro modo;
aqui estou; que Deus me ajude...
Considerado agora como um fora da lei pelo edito do papa,
Lutero fugiu novamente e foi “raptado” no caminho de volta a Wittenberg por
amigos que acharam seguro escondê-lo de Wartburgo. A partir daí ele espalhou
mais “heresia” através de escritos que abalaram ainda mais toda a Europa.
Lutero insistiu sobre a autoridade final da Bíblia. Rejeitou a justificação
diante de Deus através de rosários, peregrinações, orações aos santos,
escapulários, medalhas, crucifixos, ou obras meritórias de qualquer espécie.
Rejeitou a missa como sacrifício propiciatório, insistindo em que ela era
apenas uma memória do completo sacrifício de Cristo no Calvário.
Inconsistentemente, contudo, enquanto proclamava a fé independente de obras,
ele reteve a crença no batismo como essencial à salvação e eficaz para as
crianças que obviamente são incapazes de ter fé.
A determinação de Roma em eliminar a heresia luterana,
conforme expressa na segunda Dieta de Speyer, em março de 1529, levou uma
porção de príncipes independentes a assegurar o direito de viver conforme a
Bíblia. Eles expressaram esta firme resolução no famoso “Protesto” de 19 de
abril de 1529, de onde se originou a palavra “protestante”.
A Dieta Imperial foi realizada em Augsburgo para um completo
exame das heresias protestantes. A Confissão de Augsburgo (composta por
Melancton, de acordo com Lutero) foi lida em 25 de junho de 1530, diante de 200
dignatários da Igreja e do estado. Lutero não se atreveu a comparecer. A
Confissão, condenada por Roma, tornou-se fundamental ao Luteranismo, desde
então. Inacreditavelmente líderes luteranos têm se juntado a Roma, traindo
desse modo as legítimas verdades pelas quais Lutero tanto sofreu.
Em Augsburgo, dia 31 de outubro de 1999 (“coincidentemente”
o dia exato em que Lutero pregou, em 1517 publicamente suas teses no portão),
representantes da Federação Luterana Mundial “FLM” e da Igreja Católica Romana
assinaram uma Declaração Conjunta sobre a Justificação (JD), neutralizando
antigas diferenças. Manchetes como “
declaração
conjunta termina virtualmente com o argumento da Reforma” apareceram no
mundo inteiro. Lutero estava errado, afinal de contas. A data (31/10) e o lugar
(Augsburgo) da assinatura da declaração conjunta parece ter sido deliberadamente
escolhida para enfatizar que a Federação Luterana Mundial renunciava às
convicções de Lutero. Roma finalmente se vingara.
Num conselho prévio de 49 membros da Federação Luterana
Mundial o voto unânime foi para a aceitação da Declaração Conjunta. A Igreja
Evangélica Luterana na América presidida pelo bispo H. George Anderson,
(vice-presidente da Federação Luterana Mundial) levou o conselho a cantar “
Agora todos agradecemos ao nosso Deus”.
O Arcebispo sueco K.G. Hammar chamou aquele de
“um grande dia para o mundo Luterano”. De fato, o que poderia ser
maior do que renunciar à Reforma e desacreditar Lutero?
A Declaração Conjunta foi fruto de 30 anos de diálogo entre
teólogos luteranos e católicos. Se a justificação pela fé em Cristo fosse
complicada desse modo, quem poderia ser salvo? Quando o carcereiro de Filipos
gritou “
senhores, que devo fazer para ser
salvo”? Paulo não respondeu: “
você
pode esperar 30 anos enquanto eu lhe respondo?” Ele disse apenas: “
Crê no Senhor Jesus e serás salvo”(Atos
16:31). O evangelho bíblico não permite qualquer diálogo” teológico.
Ao assinar a Declaração Conjunta os Luteranos se renderam.
Os Católicos não mudaram coisa alguma. O Vaticano tem se recusado a anular
qualquer um dos cem anátemas {proferidos contra os protestantes}, ainda em
efeito contra todos aqueles que proclamam a justificação exclusivamente pela fé
em Cristo, sem os sacramentos da Igreja Católica Romana. Contudo, a Declaração
Conjunta engana tanto os Protestantes como os Católicos, levando-os a crer que
a Reforma surgiu de um ligeiro mal entendido do verdadeiro Catolicismo.
Inegavelmente, a crença e a prática de um bilhão de
católicos romanos espalhados ao redor do mundo (ignorados pela Declaração
Conjunta) permanecem exatamente como sempre foram. O fato é que a linguagem
cuidadosa, complexa e teológica da Declaração Conjunta não significa coisa
alguma. Os católicos continuam “rezando” a Maria por salvação, e ainda
acreditam que os “
méritos e graças de
Cristo ganhos na cruz” podem ser recebidos apenas em pequenas proporções,
que nunca salvam totalmente e que só podem ser conseguidos através dos
sacramentos da Igreja. Eles {os católicos} ainda se flagelam e praticam boas
obras e sofrimento, a fim de obter a salvação.
Aqui em Presov, Eslováquia, onde tivemos nossa última
reunião, visitamos o monte “Calvário” de onde se descortina a cidade.
“Calvários” semelhantes são encontrados através do país. No topo do monte
existe uma antiga igreja ortodoxa e para se chegar até lá há uma senda tortuosa
com degraus passando por uma quantidade de santuários de vários “santos”. Em
dias santos especiais, milhares de fiéis católicos e ortodoxos sobem até o
monte, muitos deles de joelhos. As pedras não são lisas nem a estrada
cimentada, como acontece continuamente na travessia de joelhos até Fátima, em
Portugal e outros santuários. O caminho de sofrimento de Presov é feito de
pedras ásperas e me horrorizei ao pensar nos joelhos sangrentos e esfolados
penosamente suportados a fim de ganhar o céu, ilusão promovida e abençoada pela
Igreja. A prática de conseguir “salvação” dos católicos atuais, no mundo
inteiro, é exatamente aquela da Idade Média.
Os católicos ainda usam escapulários e medalhas para abrir
os portões do céu e confiam na Santa Madre para oferecer missas após sua morte,
a fim de livrá-los do purgatório. Eles ainda rezam aos “santos”, tais como o
Padre Pio, que eles acreditam ter sofrido para pagar os pecados alheios e assim
redimido multidões através do estigma que suportou durante quarenta anos. De
fato muitas centenas de milhares de fiéis lotaram a Praça de São Pedro, em 03
de maio de 1999, quando João Paulo II beatificou o Padre Pio. Este é o mesmo
catolicismo praticado durante 1500 anos, sem mudança alguma pela Declaração
Conjunta ou ECT. Querendo ou não, os evangélicos que assinaram esse documento
estão endossando essas práticas pagãs e encorajando um bilhão de católicos numa
falsa esperança.
A prática exata de oferecer indulgências (que abriu os olhos
de Lutero para a maldade do evangelho de Roma, por ele denunciada, e contra a
qual ele laborou tão diligentemente) continua sendo parte vital e oficial do
catolicismo – fato estranhamente ignorado pela Declaração Conjunta e a ECT.
Mesmo enquanto as negociações luterano-católicas estavam sendo finalizadas, o
papa estava prometendo mais indulgências para o ano 2000. O objetivo principal
das indulgências é abreviar o tempo e reduzir as penas no purgatório, uma falsa
doutrina freqüentemente apoiada por João Paulo II. Por exemplo, no Vaticano, em
04 de agosto de 1999, o papa explicou novamente que “
não podemos nos aproximar de Deus (isto é, entrar no céu)
sem sofrer uma espécie de purificação,
(através do sofrimento pessoal de alguém, adicionado ao que Cristo sofreu na
cruz).
Todo o traço de ligação com o mal
deve ser eliminado, toda a imperfeição da alma, corrigida... e de fato isto
é precisamente o significado do ensino da Igreja sobre o purgatório. Aqueles
que assinaram a Declaração Conjunta e a ECT (proclamando os católicos como
“irmãos cristãos”) foram feitos de bobos.
Na véspera do Natal de 1999, João Paulo II abriu uma “porta
sagrada” em São Pedro (e subseqüentemente em três outras basílicas de Roma),
através das quais os peregrinos vindos de todo o mundo estiveram andando, a fim
de ganhar o perdão de pecados. A Igreja se gaba de que esta prática foi
iniciada em 1300 pelo Papa Bonifácio VIII. Na “Unam Sanctam”, de 1302, uma Bula
infalível ainda em vigor até hoje, Bonifácio tornou a obediência absoluta ao
papa como uma condição de salvação. Sobre isso a Declaração Conjunta e a ECT
estão também cegos e mudos.
Bonifácio era tão mau que Dante o sepultou nas maiores
profundezas do inferno. Uma mãe e sua filha eram simultaneamente suas amantes.
Assassinando seis mil habitantes, ele destruiu completamente a bela cidade de
Palestrina com toda a sua arte e estrutura histórica datada da época de Júlio
César, e a reduziu a um campo arado onde mandou espalhar sal. E por que?
Simplesmente porque os Colonas de Palestrina havia se tornado inimigos do papa,
o qual ofereceu indulgências (sim, indulgências a todos aqueles que ajudaram a
destruí-los). João Paulo II deve saber de tudo isso e, contudo, ele e sua
Igreja traçam sua suposta “sucessão apostólica” através de tais papas monstros,
dos quais Bonifácio não foi de modo algum o pior.
A Reforma deixou uma estrutura de igrejas estatais
(católicas e luteranas) através da Europa, cujos pastores e sacerdotes recebem
seus salários do estado, pagos através dos impostos de todos os cidadãos, fato
que só aumenta o ressentimento contra o “Cristianismo”. A Eslováquia logo
assinará concordata com o Vaticano dando à Igreja Católica especial status,
privilégios e influência. Recentemente uma peregrinação de líderes estaduais e
religiosos liderada pelo Presidente Rudolf Schuster da Eslováquia foi até Roma
para uma audiência com o papa. Os delegados ajoelharam-se diante dele e alguns
beijaram-lhe o anel. Dentre os delegados estavam os líderes da União Batista e
de outras supostas igrejas evangélicas. Minha primeira reunião em Presov
deveria ter sido realizada no local da Igreja Apostólica. Ao chegar lá fomos
informados de que a reunião havia sido transferida para a Capela do Calvário,
visto como o pastor apostólico, que havia me convidado, tinha sido demitido ao
expor o falso evangelho de Roma.
Os Reformadores e seus credos e os mais recentes defensores
da fé, tais como Spurgeon e D.M. Lloyd Jones, têm consistentemente chamado os
papas de anticristos. Não que papa algum jamais tenha sido alguma vez o
Anticristo, governador político mundial de Satanás. Mas os papas sempre têm
sido a antítese de Cristo. O papa é recebido por presidentes, reis e primeiros
ministros e ovacionado por milhões, onde quer que ele vá; enquanto isso Cristo
foi zombado por uma multidão gritando: “
fora
com ele, crucifica-o”. Cristo possuía apenas um manto sobre o qual dormiu
no chão antes de ser crucificado, porque não possuía casa; o papa tem centenas
dos mais custosos mantos de seda bordados de ouro, e reside em mais de um
palácio, dois dos quais com mais de 1.100 aposentos cada. Cristo dá a salvação
como um dom gratuito, que ele pagou completamente através de seus sofrimentos
na cruz; o papa declara que a salvação parcial é dada através do sacrifício de
Cristo sobre os altares de Igreja Católica Romana (milhares de vezes
diariamente). O contraste entre Cristo e o seu professo “vigário” não poderia
ser maior.
Há uma traição, não apenas contra as convicções de Lutero e
da Reforma pelos líderes Luteranos, mas contra Cristo e o evangelho, pelos
líderes evangélicos. Foi com o coração partido que vimos a apostasia e a
profanação onde os mártires morreram aos milhões para preservar um evangelho, o
qual agora está sendo negado, não apenas pelo seus descendentes incrédulos, mas
pelo líderes das igrejas que professam Cristo. O tempo está se esgotando, contudo
ainda não é tarde demais para resgatar aqueles que desejam conhecer a verdade.
Que Deus nos conduza até eles, em toda parte.
Dave Hunt –The Berean Call – Junho/2000