Malaquias 3 é uma peça de “bruxaria cristã”?
Dar o dízimo é pecado?
Malaquias 3:8-12 tem sido rotineiramente retirado do contexto e usado como maldição, numa espécie de “bruxaria cristã”, pelos pastores ambiciosos e manipuladores, alguns deles cegos pela ignorância bíblica. Malaquias foi escrito para um Israel que existia sob a lei. O dízimo era agrário e não baseado na renda. Israel havia se tornado relapso, os sacerdotes não faziam o seu trabalho, os sacrifícios eram corrompidos e rejeitados por Deus, com o povo negligenciando totalmente as leis matrimoniais e a manutenção e restauração da Casa de Deus. Já não se faziam sacrifícios aceitáveis.
Usar Malaquias como “maldição” contra pessoas salvas, que confiam no perfeito sacrifício de Cristo, pessoas que respeitam o matrimônio e não estão negligenciando o templo do Novo Testamento (ou seja, o seu corpo e condição espiritual), nem faltam às reuniões do “Corpo de Cristo”, é aplicar erroneamente a Palavra de Deus, visando lucro financeiro. Vejam o que declara o autor de um bestseller sobre o dízimo obrigatório, por crassa ignorância da Palavra, ou por pura ambição:
”Todo cristão que não está honrando Deus com o dízimo é culpado de estar roubando-O; está vivendo sob uma maldição e ficará na escravidão financeira, até que obedeça a Palavra de Deus e comece a dizimar. O dízimo quebra a maldição.” (“God’s Financial Plan”, Norman Robertson, p. 61, #12).
Esse malaquiano é quem deveria ser amaldiçoado por torcer de tal maneira a Palavra Santa. É isso que um pregador deve dizer a uma pessoa salva? O sacrifício de Cristo não foi suficiente? Será que Cristo removeu todas as maldições, menos a maldição financeira? Isso é um tipo de condenação à indução pelo medo, a qual é opressora, negativa e totalmente antibíblica. Esta declaração mistura a lei com a graça, deixando de manejar corretamente a Palavra da Verdade, constituindo-se em pedra de tropeço, não sendo um artigo de fé e, portanto, sendo um pecado.
Recentemente escutei um ministro lançar essa despropositada maldição de Malaquias à igreja, declarando que estava cansado de ver a igreja dele carente das bênçãos de Deus, por causa dos ladrões que freqüentavam a igreja e não dizimavam, dando somente ofertas... de procedência duvidosa. Será que esse ministro iria recusar todo o dinheiro desses “ladrões não dizimistas”? Por que iria ele participar de sua “ladroagem e pecado”, aceitando o dinheiro de uma “fonte corrupta?” (Malaquias 1:10; Amós 5:22) ...
Para estar certo de que não haveria engano na lei do dízimo agrário sob a lei, cada hebreu tinha de fazer uma declaração de honestidade perante o Senhor (Deuteronômio 26:13-15). Essa declaração obrigatória também especificava que o dízimo havia sido dado honestamente “... ao levita, ao estrangeiro, ao transeunte, ao órfão e à viúva”.
Se um crente está vivendo uma vida fora dos preceitos bíblicos, ou dizimando erroneamente, isso de nada lhe aproveitará, pois Deus não compactua com fraudes.
Devemos manejar corretamente a Palavra da Verdade. A 1 Coríntios 13 esclarece: “E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria”. Esse é o amor ÁGAPE. Declaro que quem dá com o propósito de receber está impropriamente motivado, pois não está dando com amor ÁGAPE. Devemos dar por amor, porque isso é correto. Tudo que recebemos de Deus é pela GRAÇA, através da fé em Jesus Cristo e Ele jamais nos ensinou a nos basearmos em obras (Lucas 18:9-14). A Escritura ensina que Deus não aceita ofertas de pessoas que vivam desonestamente e que não dêem com espírito reto. (Malaquias 1:10; Amós 5:22, 1 Coríntios 13:3).
O Novo Testamento sempre aperfeiçoa a lei. Ele nos ensina que a intenção é mais importante do que a regra. Segundo nos esclarece a 1 Coríntios 13, TUDO que é dado com falsas intenções de lucro resulta em NENHUM lucro individual. As promessas de Deus são de fé e esperança; portanto, dar sem amor ÁGAPE é um esforço sem resultado algum. Alguém pode crer e esperar boas coisas do Pai Celeste, quando dá sem o objetivo de receber. Isso para evitar que esse ato se torne centrado em obra. Uma coisa é certa: tudo que afeta a perfeita obra de Cristo não provém de Deus. (Lucas 18:9-14).
Aos membros de igrejas cujos pastores vivem falando de oferta das primícias, aqui vai um esclarecimento:
O Dizimo antes e durante a lei jamais foi a mesma coisa que a oferta das primícias. Muitos mestres do dízimo obrigatório confundem o dízimo com as ditas. Por não saberem manejar corretamente a Palavra da Verdade, muitas passagens da Escritura (com relação a dar as primícias) são mal aplicadas, a fim de darem suporte à doutrina do dízimo obrigatório. A oferta das primícias acontecia quando os israelitas traziam (como oferta) a primeira porção dos frutos colhidos. Era uma petição pelas colheitas futuras, as quais, posteriormente, seriam dizimadas. Era uma forma de compromisso de que os dízimos das colheitas seriam entregues. A oferta das primícias nunca foi dizimo, antes nem durante a vigência da Lei Mosaica.
Os mais famintos pelos dízimos e ofertas são os pastores que pregam a teologia da prosperidade, a qual somente funciona para eles mesmos.
A obra de Cristo não deve ser vista como uma promessa de que seremos bem sucedidos e nos tornaremos ricos.
Vejamos alguns trechos de uma entrevista feita com o ex-pregador pentecostal, Jim Baker, depois que ele se arrependeu e Deus ressuscitou o seu ministério:
“Sobre a pregação da prosperidade: Comecei a ler e escrever cada palavra conforme registrada no Evangelho. Chorei por ter estado tão errado, pregando outro evangelho e outro Jesus. Jesus chamou a riqueza de enganosa. Ele também disse: ‘Ai dos ricos’ e que ‘Não se pode servir a Deus e às riquezas’ (Mateus 6:24; Lucas 16:13). Ele jamais colocou os ricos e as riquezas num foco positivo. Como eu pude desperdiçar tanto tempo enfatizando bênçãos financeiras?
Eu costumava citar a 3 João 2 dizendo: ‘Acima de tudo, Deus deseja que vocês prosperem’. Eu amava essa passagem da Escritura. Ela parece ótima, num cenário da TV, quando se levantam fundos, e eu as interpretava como se Deus desejasse que fôssemos todos ricos. Mas quando cheguei às palavras de João, pensei: ‘Ora, isso não faz sentido.’ Então procurei a palavra ‘próspero’ no Grego e descobri que ela é composta de dois vocábulos: o primeiro significando ‘bom’ ou ‘bem’ e o segundo significando ‘jornada’. É uma palavra progressiva, então parece uma jornada.
Então, temos aqui basicamente o que João quis dizer: ‘Amado. Desejo-lhe uma boa jornada pela vida, do mesmo modo como sua alma tem feito uma boa jornada para o céu’. Era uma saudação! Construir uma teologia sobre esse verso é o mesmo que edificar a igreja sobe a frase ‘Tenha um dia feliz!’
Comecei a examinar as passagens da Escritura, usadas no ensino da prosperidade, tais como “Dai, e ser-vos-á dado’ (Lucas 6:38). Mas quando fui ao contexto da Escritura, descobri que Cristo estava nos ensinando que na mesma medida em que perdoamos somos também perdoados. Ele estava ensinando o perdão, não dinheiro. Ele estava nos ensinando que na medida em que perdoamos somos também perdoados.
Eu costumava copiar meus sermões de outros pregadores. A Bíblia admoesta os pastores que obtêm suas mensagens de outros. Acho que a razão de termos hoje outro evangelho e outro Jesus sendo pregados é porque os pregadores tiram seus sermões dos outros e do ensino motivacional. Uma porção do que está sendo ensinado hoje é simplesmente ensino motivacional, com um pouco de Escritura nele inserido”. Certa vez o pastor de uma igreja “avivada”, muito conhecido aqui em Teresópolis (RJ), foi pregar no seminário onde eu lecionava Inglês e Teologia Sistemática.
À medida em que ele ia falando, eu já sabia a próxima sentença que ele iria dizer. É que ele estava “papagueando” nada menos que o capítulo de um livro que eu acabara de ler. Tanto que nos final da “pregação”, ele falou: “Icabode!”, exatamente a última palavra do tal capítulo.
Para alguns pregadores o Cristianismo dos tempos atuais parece nada mais do que um bolo de sucesso com uma camada de cobertura cristã. Para eles “a riqueza é igual à piedade’. E a falta de riqueza é igual a “maldição”.
Mas vamos ler Tiago 1:9-11: “Mas glorie-se o irmão abatido na sua exaltação, e o rico em seu abatimento; porque ele passará como a flor da erva. porque sai o sol com ardor, e a erva seca, e a sua flor cai, e a formosa aparência do seu aspecto perece; assim se murchará também o rico em seus caminhos”.
Esses arrogantes mestres da prosperidade olham para os pobres, esquecendo que a maior fatia do seu dinheiro provém dos baixos salários do trabalhador, em geral iletrado e fácil de ser manipulado. Tal arrogância, muitas vezes, os leva a acreditar que “Deus sempre se encontra onde o dinheiro está fluindo”. Esses lacaios da doutrina da prosperidade pensam assim: “Ora, se eu estou faturando tanto dinheiro, isso só pode ser de Deus!”
Vamos repetir: Dar o dízimo com segunda intenções, conforme é praxe entre os membros das igrejas malaquianas, achando que Deus terá obrigação de retribuir o dito com bênçãos materiais e espirituais, é um grave pecado. Porque Deus não é comerciante para trocar mercadoria, nem quitandeiro para pesar as frutas e legumes e cobrar o equivalente em valor. Ele é Soberano e disse a Moisés: “Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia. Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece”.
Se você, meu irmão, tem dado o dízimo pensando receber algum favor divino, isso é obra morta e Deus odeia esse tipo de coisas. As obras foram abolidas desde a morte de Cristo no Calvário, onde Ele nos deu a salvação, creditando-nos todas as bênçãos espirituais, segundo Efésios 1:3.
Dê ofertas com o coração cheio de amor e gratidão pela bondade e misericórdia de Deus e nunca tentando comprá-Lo, pois o Seu favor não está à venda. Dê ofertas para sustentar as despesas da igreja, ame seus irmãos em Cristo, preste muita atenção nos sermões do pastor, cante belos hinos para louvar e glorificar o Senhor, que o melhor ELE vai fazer, com toda certeza!
Mary Schultze, julho 2006.
Material extraído do artigo “The Truth About Tithing”, De Richard Wayne Garganta, (richinri@aol.com)
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